05/12/2019
A expansão da empresa teve início em 1928, com a instalação da primeira filial na catarinense Joinville.
Terminada a 2ª Guerra Mundial, a empresa retomou a importação de peças, máquinas de costura e bicicletas
produzidas em todo o mundo. De uma pequena oficina, a empresa tornou-se uma grande importadora. “A indústria brasileira era incipiente. Além das motocicletas e bicicletas, a empresa importava também rádios e aerodínamos wincharges – geradores eólicos de energia –, e diversos produtos que a indústria nacional não fabricava. Nada disso
era produzido aqui”, conta Rogério Prosdocimo.
Em Curitiba, em 1934, a loja foi transferida para a Praça Tiradentes e ali permaneceu por décadas como a matriz das Lojas Prosdocimo, ocupando sete pavimentos, sendo cinco de lojas e dois andares para escritórios e administrativo. No ano de 1947, um ano após o falecimento do fundador da empresa, foi inaugurado o edifício João Prosdocimo,
sede da organização, na esquina da Rua Cruz Machado com a do Rosário, no centro da capital. O espaço também abrigou a Delegacia Estadual do Senac, ainda na década de 1940.
Em 1963, ano que marcou o aniversário de 50 anos de fundação, a empresa contava com filiais também nas cidades de Blumenau e Maringá e capital de 450 milhões de cruzeiros. Os anos seguintes foram de crescimento exponencial da empresa, que chegou a contar, na década de 1980, com 27 lojas no Paraná e em Santa Catarina, 49.915m2 de área construída, 17.744m2 de depósito, 1.800 colaboradores, além de um mix de produtos superior a 35 mil itens.
O jornal Gazeta do Povo, de 1983, ao publicar matéria sobre os 70 anos da empresa destacava o suprimento
de mercadorias nos anos pós-guerra. “E como o país ainda não fabricava muitos dos produtos cada vez mais necessários, Prosdocimo passou a oferecer ao público o conforto e a utilidade. Os automóveis começaram a rodar com pneus estrangeiros. Os refrigeradores importados foram ocupando seu lugar nos lares da época. Bicicletas, máquinas de costura, rádios, automóveis, ferramentas elétricas, fogões, lavadoras, cristais, porcelanas, brinquedos e
outros artigos do exterior foram fazendo parte da vida daqueles anos. E o nome Prosdocimo criou raízes na região Sul”, trazia o texto do jornal.
Com o desenvolvimento da indústria nacional, a empresa passou de importadora a distribuidora e revendedora de produtos e transformou-se em uma completa loja de departamentos. Por diversas vezes recebeu prêmios em reconhecimento pela liderança nas vendas de produtos no Paraná e Santa Catarina. Foi o maior revendedor de aparelhos de ar-condicionado Admiral Springer, dos produtos das marcas Walita, Monark, entre outras.
Nos anos finais da década de 1940, a família Prosdocimo teve a oportunidade de comprar uma fábrica de refrigeradores que existia em Curitiba. Os irmãos Pedro e João Antônio dividiam o comando das empresas. Enquanto Pedro era presidente no comércio, João Antônio era na indústria. Ambos eram vice-presidentes de cada empresa.
“Na época da compra da indústria era fabricada uma geladeira por dia. O crescimento do consumo, o aquecimento da indústria nacional, o acesso à energia elétrica fez com que a empresa crescesse e, em 1949, foi fundada a Refripar – Refrigeração Paraná”, destaca Rogério.
Em 1963, já eram fabricados mensalmente mil geladeiras elétricas e a marca Prosdocimo se tornou referência
em todo o país. “Quando eles compraram a fábrica de geladeiras era algo totalmente novo e o tio João se jogou de corpo e alma para desenvolver a fábrica. A empresa cresceu muito, até que em determinada época, a família de Pedro ficou somente com o varejo e a de João, só com a indústria”, lembra.
Foi o hobby de Pedro pela pescaria e o pedido para que o irmão colocasse uma geladeira na horizontal e a tornasse um grande congelador para armazenar os peixes, que em 1961 a Refripar lançou no mercado o primeiro freezer horizontal no Brasil. Em 1996, a Refripar, segunda maior indústria de produtos da linha branca no Brasil, foi vendida ao grupo sueco Electrolux.
Dois grandes grupos varejistas genuinamente paranaenses e concorrentes, Hermes Macedo e Prosdocimo foram empreendimentos criados no mesmo período e que trouxeram inovações ainda hoje reproduzidas pelo mercado. “O
Grupo HM era muito maior, mas as Lojas Prosdocimo eram extremamente ágeis, ousadas e sempre foram muito arrojadas na parte de comunicação. Pedro Prosdocimo era uma pessoa empreendedora, de uma visão impressionante.
Ele gostava tanto de trabalhar quanto de pescar. No escritório, atrás de sua mesa, havia um quadro com a seguinte frase: ‘Deus não desconta da vida do homem o tempo que ele passa pescando’. Ele era uma pessoa boníssima,
agradável, bom de papo e excelente contador de histórias”, revela Adalberto Scherer Filho, que trabalhou na empresa de 1976 a 1986, no Cardex – um sistema de arquivo de fichas em armário e que possibilitava o controle e a organização do estoque –, e chegou a diretor de propaganda das Lojas Prosdocimo.
Sempre buscando a diferenciação no mercado, o grupo foi responsável por instalar a primeira escada rolante do Paraná, em 1958, em Curitiba. A ideia era permitir um maior fluxo de pessoas e facilitar o deslocamento dos clientes dentro das lojas, destaca Rogério. Por conta da instalação da escada rolante na matriz da empresa, Pedro
Prosdocimo recebeu a medalha de Pioneiro e o título de Comerciante do Ano de 1958, concedidos pela Rádio Cultura do Paraná.
O grupo também inovou ao ser a primeira empresa paranaense a introduzir em seu crediário o carnê, facilitando aos clientes a aquisição de artigos e o pagamento em prestações mensais. Também eram serviços exclusivos da loja a compra e o parcelamento das prestações em três vezes sem juros.
Em 1971, a empresa criou um escritório de compras em São Paulo que possibilitava a aquisição de produtos inovadores assim que ingressassem no mercado. Destinou, pela primeira vez, um andar da loja exclusivamente voltado para o público feminino e passou a facilitar o crédito aos clientes jovens, sem limite de idade.
Onde já havia abrigado um depósito,
uma imensa pista de autorama
e um setor especializado em produtos
de pesca foi implantado o Underground,
no centro de Curitiba.
Inspirado no metrô de Londres,
o espaço foi criado para atender à
demanda por produtos voltados ao
público jovem, ofertando vestuário
de marcas famosas em todo o mundo
e equipamentos para a prática de
esportes radicais.
A empresa construiu na Cidade
Industrial de Curitiba um Centro
de Distribuição e Centralização
dos Estoques (Cedis), reduzindo
custos e otimizando recursos. O
Cedis era informatizado, foi considerado
na época um dos mais
completos e com a melhor estrutura
do país, além de agilizar a
distribuição de mercadorias para
toda a cadeia de lojas.
Outra inovação foi a implantação
do Cartão de Credito, que era
distribuído gratuitamente entre
clientes selecionados. “É um cartão
de uso limitado, porque só
tem valor nas lojas Prosdocimo.
Mas, ao mesmo tempo, de uso ilimitado,
já que o Prosdocimo tem
quase tudo”, dizia comercial veiculado
em 1977.
Desde 1950, a empresa também
passou a realizar uma festa de
Natal na cidade de Curitiba que
se tornou tradicional e esperada
por toda a comunidade. Todos os
anos, buscava-se superar a edição
anterior e, assim, avenidas da cidade
eram fechadas pelo público
para a chegada do Papai Noel e
para o desfile de Natal.
Trabalhar nas Lojas Prosdocimo
era motivo de orgulho para muitos
colaboradores e exibir a carteira
assinada pelo grupo era um
sinal de que o trabalhador havia
conquistado uma excelente posição
no mercado de trabalho.
Adalberto lembra que a função de
vendedor da loja era muito bem
vista e com boa remuneração. Os
familiares e os colaboradores da
empresa tinham acesso à assistência
médica e odontológica por
meio de convênios com entidades
médicas e, além disso, havia
a Associação Prosdocimo e uma
Colônia de Férias no Balneário
de Guaratuba. Rogério conta que
a diária na colônia correspondia
a 1% do salário do colaborador e
este benefício era estendido à família.
Todos os anos, desde 1967, ocorria
a Convenção Prosdocimo, um
encontro com representantes e gerentes
de todas as filiais para discutir
o Plano Geral de Expansão
da Cadeia de Lojas Prosdocimo.
“Durante dois dias, esses colaboradores
reuniam-se para discutir o
plano estratégico da empresa para
o ano seguinte e para que todos os
colaboradores tivessem o mesmo
norte e falassem a mesma língua”,
conta Adalberto.
A publicidade das Lojas Prosdocimo
esteve presente desde a sua
fundação. A importância era tamanha
que a empresa criou uma
agência de publicidade própria, a
Exclam, que comandava e criava
toda a comunicação da empresa
e foi considerada a maior agência
do estado. Ela também prestava
serviços externos, era responsável, por exemplo, pela conta nacional
da Volvo. No início da década de
1980 a Exclam foi vendida e a conta
Prosdocimo foi assumida pela
MPM Propaganda, a maior agência
de publicidade do Brasil, que
abriu um escritório em Curitiba
para atender às Lojas Prosdocimo.
O período conhecido como “Milagre
Econômico”, de 1969 a
1973, foi marcado por um forte e
excepcional crescimento econômico
no país. As vendas do varejo e
a publicidade acompanharam esta
linha ascendente da economia.
Em 1971, a empresa lançou uma
intensa campanha de vendas, o
“Novo Prosdocimo”, que trouxe
ações inovadoras para a empresa,
renovação total da frota para o
mais rápido possível entregar as
mercadorias, o layout e fachadas
das lojas mudaram. “Tivemos
uma campanha Novo Prosdocimo
que marcou muito. As vendas
cresceram tanto que ficamos preocupados
como seria a campanha
de Natal do ano seguinte. Precisávamos
expandir, e criamos na
Rua Marechal Floriano Peixoto,
o Prosdocimo Gigantão”, conta
Rogério.
Para atender a crescente
demanda dos
clientes, no início
da década de 1970,
decidiu-se que a loja
localizada na Avenida
Marechal Floriano
Peixoto, até então com
pouco movimento, seria
a grande atração
do grupo. Na época, a
região não era de forte
comércio e seria um
desafio levar o público
até lá. Para alcançar
este objetivo, Rogério
Prosdocimo comandou diversas
ações. Em conversa com fornecedores
chegou a uma solução novamente
inovadora. “Nós tínhamos
um contato muito próximo com
nossos fornecedores. Nessa época
fomos a São Paulo e nos reunimos
com fornecedores. Dissemos
que queríamos dobrar as vendas
e que eles teriam que colaborar
com isso. Eles iriam duplicar os
nossos pedidos com condições
melhores e colocar pessoas dentro
da loja para vender os produtos
porque nós não tínhamos capacidade
de formar pessoas para fazer
isso. Criamos stands de diferentes
marcas e foi um sucesso”, revela o
empresário.
Trazer o tradicional desfile de
Natal que era realizado no centro
da cidade até a loja o Gigantão,
promover a exposição do carro
de Emerson Fittipaldi utilizado
na corrida que o tornou campeão
mundial de Fórmula 1 e o show
de um golfinho em plena loja foram
outras ações arrojadas. “Em
Santos [SP] havia shows com um
golfinho e decidimos que traríamos
a atração para Curitiba,
embora muitos dissessem que era
uma loucura. Encaixamos um
tanque de 120 mil litros de água
salgada dentro da loja Gigantão.
Trouxemos o golfinho em um
caminhão, com todo o cuidado
necessário. Também trouxemos
a adestradora. Diariamente eram
feitos seis shows de acrobacias e as
crianças amavam. Era uma atração
disputada dentro da loja”,
lembra o empresário que na época
tinha menos de 30 anos e estava
à frente do setor comercial da
empresa.
A crise econômica que assolou
o Brasil na década de 1980, a hiperinflação,
descapitalização culminaram
com a venda do Grupo
Prosdocimo para a gigante Arapuã,
um conglomerado de 276 lojas,
de propriedade de Jorge Jacob. A
coluna de Adherbal Fortes de Sá
Jr, no Correio de Notícias, de 17 de
julho de 1984, trazia a notícia da
negociação. “Realmente não deve
ser fácil para os Prosdocimo passar
adiante uma empresa de 71 anos
de existência, sólida tradição entre
os paranaenses. (…) A rede sofreu
com a inflação e descapitalizou-
-se. Começou a tomar dinheiro
no mercado – não teve as mesmas
facilidades dos gigantes do setor, o
que significou maiores custos que
repassou aos compradores. Com
isso, suas vendas não cresceram na
mesma velocidade dos concorrentes
maiores. Vendendo menos, deixou
de obter melhores preços das indústrias,
que dão descontos para grandes
compras ou para quem oferece
garantia de comprar durante longos
períodos”, explica o artigo que conclui:
“Em outras palavras: Prosdocimo,
como muitas outras empresas,
foi vítima do modelo concentrador
de riqueza que vige no Brasil desde
1964”.
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