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Entre campos e arenitos

A região dos Campos Gerais concentra importantes atrativos turísticos do estado, ricos em histórias, diversidade cultural e rara beleza natural.

24/03/2020

Silvia Bocchese de Lima*

“Paraíso terrestre no Brasil”.
Foi assim que o botânico e
naturalista francês Auguste de
Saint-Hilaire descreveu a Região
dos Campos Gerais do Paraná
quando visitou a região em 1822.

Construído em 2001, o Memorial da Imigração Holandesa tem uma réplica em tamanho original do Moinho Woldigt, do Norte da Holanda. (Crédito imagem: Silvia Bocchese de Lima)

Ele foi responsável por escrever livros
sobre as paisagens brasileiras
e os costumes aqui praticados no
século XIX. Em uma das obras
pontuou que “esses campos constituem
inegavelmente uma das mais
belas regiões que já percorri desde
que cheguei à América!”.

A abertura do trajeto pioneiro –
por onde passavam os tropeiros –,
que ligava Viamão, no Rio Grande do Sul, a Sorocaba, em São Paulo,
certamente marcou o início do desenvolvimento regional e a formação
das cidades dos Campos Gerais. Castro, a primeira a ser constituída
na região e uma das primeiras do Paraná, é exemplo dessa ação, assim
como a Lapa, Rio Negro, Campo do Tenente, Porto Amazonas, Palmeira,
Ponta Grossa, Tibagi, Piraí do Sul, Jaguariaíva e Sengués.

Ponta Grossa, desde muito tempo, é destino recorrente de minha família
nas festas de fim de ano e, vez ou outra, durante o ano, mas carrego
uma lembrança marcante de lá: os ventos recorrentes e intensos.

 

Além da já consagrada Taça, o Parque Estadual de Vila Velha é repleto de arenitos, em diversas formas. Na foto, em destaque, a Bota. (Crédito imagem: Silvia Bocchese de Lima)

A pouco menos de 30 quilômetros do centro de Ponta Grossa está localizado o Parque Estadual de Vila Velha, em uma área de
três mil hectares, tombado em
1966 pelo patrimônio Histórico
e Artístico do Estado. Acredita-se que a formação dos arenitos
tenha mais de 300 milhões de
anos. Essas pedras foram transformadas
ao longo do tempo,
principalmente, pela ação das
chuvas e dos ventos, tomaram
variadas e gigantescas formas
que mexem com a imaginação
de quem visita o espaço seja a
Taça, a Bota, o Índio, a Garrafa
ou o Camelo.

O Buraco do Padre, no Distrito de Itaiacoca, em Ponta Grossa. (Crédito imagem: Prefeitura de Ponta Grossa)

 

BURACO DO PADRE

Não é difícil entender o motivo
pelo qual padres jesuítas passavam
longos períodos contemplativos,
meditando em frente
a uma cascata de 30m de altura,
na região de Itaiacoca, em Ponta
Grossa. A queda d´água é originária
do Rio Quebra Perna, que
deságua em uma furna, uma espécie
de cavidade na encosta de
uma rocha de 43m de altura. Alguns
chegam a descrevê-lo como
um “anfiteatro de pedras”. Aos
caboclos e aos tropeiros que passavam
pela região é atribuído o
nome dado ao local.

O atrativo turístico está localizado
em uma propriedade privada, a 24
quilômetros do centro de Ponta Grossa. Para chegar até o espaço é preciso
percorrer um trajeto de mil metros a pé. A trilha é adaptada para
cadeirantes e pessoas com mobilidade limitada, mas apresenta obstáculos
naturais.

A manutenção e a valorização do espaço são de responsabilidade da
empresa Águia Florestal. As visitas podem ser realizadas de quinta-feira
a domingo e aos feriados, das 9h às 17h.

Cachoeira da Mariquinha, em Ponta Grossa. (Crédito imagem: Silvia Bocchese de Lima)

CACHOEIRA DA MARIQUINHA

Outra beleza natural de Ponta Grossa encontra-se no distrito de Itaiacoca:
a Cachoeira da Mariquinha – uma Unidade de Conservação localizada a aproximadamente 30 quilômetros do centro da cidade
de Ponta Grossa.

Para ter acesso à queda d´água de
30 m de altura e ao balneário, é
necessário o visitante percorrer
uma trilha, repleta de arenitos e
capões de mata nativa. O local é
ideal para caminhadas nas trilhas
e acampamentos, equipados com
banheiros para banhos e estacionamento.

Para agendamentos e informações
(42) 999 92-7579 ou (42) 98834-
7490.

Estação Saudade. (Crédito imagem: Bruno Tadashi)

ESTAÇÃO SAUDADE

Em dezembro do ano passado, o
Sistema Fecomércio Sesc Senac
PR entregou à população de Ponta
Grossa a antiga estação de trem da
cidade, totalmente restaurada. Por
esse espaço, de importância histórica
e parte da memória afetiva da
cidade, passaram personagens da
política nacional, inventores, escritores
e viajantes, muitos viajantes.

Hoje, o prédio abriga uma unidade
cultural do Sesc, uma unidade
de Educação Tecnológica do Senac
e um café-escola.

 

Museu Histórico Castrolanda representa uma casa de fazenda, característica da região Nordeste da Holanda. (Crédito imagem: Silvia Bocchese de Lima)

CENTRO CULTURAL CASTROLANDA

Incertezas políticas, econômicas e a escassez de terras na Europa após o
término da II Guerra Mundial impulsionaram a saída de muitas famílias
holandesas do país de origem e a busca por um novo lar. Instalados nos
Campos Gerais, em Castro, criaram a Colônia e a Cooperativa Agropecuária
Castrolanda, mantendo a tradição, arquitetura, grupo folclórico,
gastronomia e língua.

Novamente os ventos da região me trouxeram novidades, ao conhecer
o Memorial da Imigração Holandesa. Ele foi construído em 2001 e traz
uma réplica em tamanho original do moinho de vento Woldigt, situado
a Norte da Holanda. A construção tem 37 m de altura e os habitantes
garantem que a estrutura, feita em madeira, permanece em pé sem o uso de pregos. O centro cultural ainda
abriga um salão para eventos,
restaurantes, loja de artesanatos
e, de sexta-feira a domingo e aos
feriados, é aberto à visitação das
13h às 18h.

Outro local a se conhecer é o
Museu Histórico Castrolanda.
O espaço representa uma casa de
fazenda, característica da Região
Nordeste da Holanda, de onde
veio a maioria dos imigrantes da
localidade. No espaço visualiza-se como eram os cômodos das
residências, objetos pessoais, decoração
e é possível visitar uma
exposição.

No Museu do Tropeiro, em Castro, é possível conhecer utensílios e objetos utilizados pelos viajantes. O acervo do museu conta com mais de mil peças. (Crédito imagem: Silvia Bocchese de Lima)

 

MUSEU DO TROPEIRO E CASA DE SINHARA

Com um acervo de mais de mil
peças, o Museu do Tropeiro, primeiro
no Brasil a resgatar a história
e a memória do tropeirismo,
foi inaugurado em Castro,
em 1977. Entre os objetos em
exposição estão documentos, vestimentas, montarias, mapas, móveis
de época, objetos sacros e pessoais dos antigos viajantes.
A Casa de Sinhara, localizada também em Castro, retrata a vida da mulher
castrense no período do tropeirismo e, no prédio, é possível conhecer
objetos, móveis e utensílios domésticos.

O museu e a casa funcionam de terça a sexta-feira, das 8h30 às 11h30 e
das 12h30 às 17h. Os espaços também são abertos ao público no primeiro
domingo de cada mês, das 9h às 17h.

 

Parque das Águas, uma das atrações do Parque Histórico de Carambeí. (Crédito imagem: Silvia Bocchese de Lima)

 

PARQUE HISTÓRICO DE CARAMBEÍ

Impossível não impressionar os olhos com o charmoso Parque Histórico
de Carambeí – o maior museu histórico a céu aberto do Brasil, retratando
a saga da imigração holandesa no estado e, hoje, é um três museus
mais visitados do Paraná, com cerca de 134 mil visitantes em 2019. Com
100 mil metros quadrados, o parque reúne jardins e edificações que
compõe o memorial da imigração e todas as vezes que visito fico encantada
com a relação da cultura holandesa com a música. Em quase a
totalidade das casas retratadas há partituras, pianos e harmônios – uma
espécie de órgão que produz um som parecido com o do acordeom.

 

Representação de uma antiga sala de aula, no Parque Histórico de Carambeí. No registro, além do quatro de giz e livros, um harmônico. (Crédito imagem: Silvia Bocchese de Lima)

O parque é composto pela Casa da Memória – que abriga o acervo
do museu, uma confeitaria e um restaurante, onde aos domingos e
feriados é servido um almoço que combina a gastronomia Indonésia
à Neerlandesa –, o Parque das Águas, a Vila Histórica, os Jardins e o
Museu do Trator.

A cada dois anos é promovida
no parque, em maio, a Festa dos
Imigrantes; e, anualmente, no 1º
sábado de julho, o espaço recebe
o Arraiá no Parque, a maior festa
caipira dos Campos Gerais, com
mostra de quadrilhas, gastronomia
típica e fogueira de 11m de
altura. Mais de 10 mil pessoas
são esperadas todos os anos para
a Festa Medieval, realizada no
terceiro fim de semana de agosto,
reunindo um público caracterizado
para celebrar a Idade Média.

Durante todo o mês de dezembro
os visitantes acompanham uma
programação especial no evento
Natal no Parque, que fica aberto
para apresentações à noite, com
show de música, luzes e teatro. O
parque está aberto para visitação
de terça a sexta-feira, das 11h às
18h e, aos sábados e domingos,
das 11h às 18h30.

 

Ponte Ferroviária dos Arcos, construída em 1880. (Crédito imagem: Ivo Lima)

 

SÃO LUIZ DO PURUNÃ

Localizada entre o primeiro e segundo
planalto paranaense está
a Serra de São Luiz do Purunã, repleta de cânions, lagos, recantos e
cachoeiras. São Luiz do Purunã também é um distrito de Balsa Nova e
conta com paisagens espetaculares, além de ser local próprio para turismo
de aventura, como escaladas e rapel, cavalgadas, caminhadas, trilhas,
cicloturismo.

Rota dos antigos tropeiros, conta com diversas pousadas, hotéis e restaurantes
que ofertam a comida tropeira, além da costela de fogo de
chão, que foi oferecida a Dom Pedro II quando esteve na região para
pernoitar.

Um pouco antes da junção do Rio dos Papagaios com o Rio Iguaçu foi
construída, em 1880, a Ponte Ferroviária dos Arcos, com extensão de
585m e 60m de altura, é tombada pelo patrimônio artístico.

 

PARQUE ESTADUAL
DO GUARTELÁ

O Parque Estadual de Guartelá
está localizado nos municípios de
Castro e Tibagi, possui uma área
de 798 hectares. Em seu território
encontra-se o Canyon Guarterá,
cortado pelo Rio Iapó sendo considerado
o maior canyon do Brasil
em extensão, além de corredeiras,
cachoeiras, grutas e inscrições rupestres
dos primeiros habitantes
da região. O parque permanece
aberto de quarta-feira a domingo
e nos feriados nacionais, das 9h às
16h30.

 

ATRATIVOS DIVERSOS

A região dos Campos Gerais é rica
em atrativos naturais, como a Cachoeira
da Fenda, em Arapoti; Parque
Estadual do Cerrado e a Área
de Proteção Ambiental Estadual da
Escarpa Devoniana, em Jaguariaíva; as pinturas rupestres, em Piraí do Sul;
a Lagoa Dourada e as furnas, em Ponta Grossa; a Gruta do Cercado e o
Recanto dos Papagaios, em Palmeira e o Salto Santa Rosa, em Tibagi.

 

 

Museu Histórico de Witmarsum. (Crédito imagem: Ivo Lima)

O turismo gastronômico passa pelas irresistíveis tortas de Carambeí,
no charmoso e disputado Frederica’s Koffiehuis; pelo feijão tropeiro,
arroz carreteiro e farofa de carne, prato típico de Castro; pelos queijos
da Colônia Witmarsun que receberam selo de indicação geográfica do
Sebrae/PR, atestando a qualidade do produto; pela Alcatra do Espeto,
de Ponta Grossa, pelo Pão no Bafo, de Palmeira e pelo Entrevero de
Pinhão, de Telêmaco Borba.

A região ainda promove eventos como a Müchen Fest, a Festa Nacional
do Chope Escuro, que ocorre em Ponta Grossa desde 1990; a Festa do
Carneiro no Rolete, de Carambeí, além dos espaços culturais como a Casa
da Memória e o Condomínio Industrial Conde Matarazzo, de Jaguariaíva.

A beleza que maravilhou o botânico francês continua a me deleitar e a
encantar turistas de todo o mundo que visitam a região, em busca do
turismo cultural, de aventura, gastronômico, rural, religioso, e do ecoturismo
ou, como eu, do carinho familiar.

 

* * * * *

*Apesar de ser natural de Pato Branco, Silvia Bocchese de Lima tem familiares nos Campos Gerais. Viaja diversas vezes pela região e a cada visita, uma nova descoberta.

Publicado por Silvia Bocchese de Lima

24/03/2020 às 16:46

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