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As pequenas grandes geradoras

Mensalmente, os mais de 500 pequenos empreendimentos hidrelétricos espalhados pelo Brasil produzem juntos quase 6GW de potência

04/06/2020

Texto: Silvia Bocchese de Lima

Fotos: Bruno Tadashi, Ivo Lima e Murilo Ribas

 

Gregos e romanos, há
mais de quatro mil
anos a.C., já faziam uso
da água em movimento
para mover rodas e criar energia,
capaz de irrigar lavouras, moer
grãos e fornecer água potável às
comunidades. Na região que hoje
abriga a Bósnia, Montenegro e
Croácia, os moinhos d´água eram
utilizados desde o século II a.C. e,
na Ásia, em período muito próximo,
também. Leonardo da Vinci
chegou a dizer que a “água é a força
motriz da natureza”.

O uso das quedas d´água, como
fonte de energia, faz parte da
história brasileira. Em 1883, em
Diamantina (MG), entra em operação
a Usina Ribeirão do Inferno,
marcando definitivamente o
país como grande produtor de
energia hidrelétrica do mundo.
A inauguração da usina mineira,
ainda em funcionamento,
ocorreu apenas um ano depois
da invenção das lâmpadas incandescentes
por Thomas Edison e
da primeira usina hidrelétrica ter entrado em operação nos Estados
Unidos.

Foi após a década de 1920, quando
a primeira onda de eletrodomésticos
começou a invadir os
lares brasileiros, e com o desenvolvimento
da indústria nacional
no pós-guerra, que a curva de
consumo médio mensal familiar,
que era praticamente incipiente,
passou para 165kWh no Paraná,
segundo levantamento realizado
no último dezembro, pela Companhia
Paranaense de Energia (Copel).
Com as severidades climáticas,
seja no verão ou no inverno,
este consumo chega a triplicar.

O ritmo de desenvolvimento das
cidades e o acesso às inovações
tecnológicas têm feito a curva de
consumo de energia elétrica aumentar
consideravelmente nas últimas
décadas. Com a substituição
gradual e crescente dos veículos
com motor de combustão interno
por elétricos certamente acarretará
mudanças no modelo e na produção
de energia.

DE GRANDES PARA PEQUENOS
EMPREENDIMENTOS

Na edição nº 128 da Revista Fecomércio
PR, o engenheiro e doutor
em Hidráulica, Nelson Luiz de
Souza Pinto, foi um dos entrevistados
na matéria Rio Iguaçu, uma
indústria de energia. Ele relembrou
que no fim da década de 1960 havia
sido instalado na capital paranaense,
o Comitê Sul, sob amparo
da Copel, com a tarefa de inventariar
o potencial hidrelétrico da Região
Sul e, por meio desta equipe,
distinguiu-se a riqueza energética
do Rio Iguaçu – um dos mais importantes
do Paraná – oportunidade
em que foram estabelecidas
as prioridades de investimentos
dos grandes empreendimentos hidrelétricos.

Ao longo dos seus mais de
1.320km de extensão, o Rio Iguaçu
abriga seis grandes usinas hidrelétricas,
com potência instalada
superior a 7GW; o Rio Paraná,
conta com a Usina Binacional de
Itaipu, com seus 14GW de potência
instalada, além das usinas dos
rios Tibagi, Paranapanema, Capivari
e Jordão, que juntos abrigam
12 usinas hidrelétricas com potência
instalada de 3.045,62MW.

Jonel Iurk, engenheiro civil, matemático e ex-presidente da Copel

Para o engenheiro civil, matemático
e ex-presidente da Copel, Jonel
Iurk, o estado do Paraná oferece
uma grande contribuição à matriz
de energias renováveis do Brasil, e
por isso mesmo, praticamente atingiu
o limite de aproveitamento dos
grandes potenciais de geração hidráulica
existentes em seu território.
“Ainda se tem um potencial interessante
nos rios Piquiri e Tibagi,
para usinas hidrelétricas de potência
instalada por volta dos 100MW.
Os grandes e melhores projetos no
Paraná ocorreram nos rios Iguaçu
e Paraná. Pela conformação geográfica
e pelos acidentes topográficos,
o estado é privilegiado na geração
hidráulica de energia. A Região
Sul do Brasil possui um regime de
chuvas bastante regular, tornando
possível se prever o comportamento
das vazões dos rios e, portanto,
fazer um planejamento de geração
de energia”, pontua Iurk.

Na sede da ABRAPCH, o diretor de Assuntos Institucionais, Ademar Cury, e o vice-presidente da associação, Pedro Dias

A VEZ DAS PEQUENAS

O potencial de geração de energia
hidrelétrica do Paraná para grandes
empreendimentos está praticamente
esgotado, mas isso não significa
que ele é inexistente. Existem outras
modalidades e tamanhos de
empreendimentos possíveis, entre
elas as Pequenas Centrais
Hidrelétricas (PCHs) e as
Centrais Geradoras Hidrelétricas
(CGHs). O que as difere
é o porte do empreendimento,
mas, assim como
as Usinas Hidrelétricas
(UHEs), têm a finalidade
de gerar energia elétrica por
meio do aproveitamento da
força das águas. “A diferença
de uma grande e de uma
pequena usina é a questão
de volume d´água, aproveitamento
e as quedas d´água. Para
gerar energia hidráulica são necessárias
duas variáveis principais:
uma é a altura de queda e outra é a
vazão. Não adianta ter uma altura
de queda gigantesca e não ter água.
Existe uma relação de equilíbrio”,
explica Iurk.

EMPREENDIMENTOS HIDRELÉTRICOS NO BRASIL:

» CGH: até 5MW

» PCH: de 5MW a 30MW

» UHE: acima de 30MW

 

Hoje, a capacidade instalada dos
pequenos aproveitamentos hídricos
no país soma 5.943MW, o
que corresponde a cerca de 4%
de toda a matriz hidrelétrica. De
acordo com relatórios da Associação
Brasileira de Pequenas Centrais
Hidrelétricas (ABRAPCH), o Paraná possui diversas áreas possíveis
para o aproveitamento hidroelétrico
e 271 empreendimentos
– totalizando 1.934MW – já estão
cadastrados na Agência Nacional
de Energia Elétrica (Aneel), aguardando
licenciamento.

Dados da associação ainda demonstram
que em 2019, o governo
do estado encaminhou à
Assembleia Legislativa, projeto de
lei que aprova a construção de 14
CGHs e duas PCHs no Paraná.
Pedro Dias, vice-presidente do
Conselho Administrativo da
ABRAPCH, destaca que existem
1.800 PCHs e CGHs sendo estudadas
em todo o Brasil, algo em torno
de 15GW em novos projetos.

CÓDIGO DE ÁGUAS

Quando Getúlio Vargas promulgou,
em 1934, o Código de Águas,
ainda vigente no país, determinou-
se que as “quedas d´água e
outras fontes de energia hidráulica
existentes em águas públicas
de uso comum ou dominiais são
incorporadas ao patrimônio da
União, como propriedade inalienável
e imprescritível”.

Como a água pertence à União, em
uma propriedade privada que tenha
potencial para a instalação de uma
PCH ou CGH é necessário requerer
uma autorização, desenvolver
um estudo e submetê-lo à Aneel.
“É necessário realizar um inventário
de potencial. No caso de uma
CGH, o solicitante recebe uma
autorização. No caso das PCHs e
UHE são concessões. A diferença
é que nos casos de concessões, o
patrimônio, mais tarde, é revertido
à união e as autorizações, patrimônio
particular”, destaca Iurk.

 

BENEFÍCIOS DA ENERGIA HÍDRICA: 

» Energia limpa e barata

» Fonte de Energia Renovável

» Sem emissão de gases poluentes significativos na geração

 

Resultado de uma doação da ABRAPCH ao município de Curitiba, a CGH instalada no Parque Barigui produz energia capaz de abastecer 135 casas e proporcionar uma economia de mais de R$130 mil/ano na conta de luz

 

CGH NICOLAU KLÜPPEL

Em outubro do ano passado,
foi inaugurada, em
Curitiba, no Parque Barigui,
a turbina da CGH Nicolau
Klüppel, doada ao município
pela ABRAPCH, capaz
de gerar mensalmente cerca
de 21.600kWh, o suficiente
para abastecer 135 casas.
Trata-se de um pequeno
aproveitamento hídrico,
mas de extrema importância.
“A geração de energia da CGH
Nicolau Klüppel, do Parque Barigui
é pequena, mas estamos falando de
uma economia na fatura de energia
da Prefeitura na casa de R$132mil
ao ano,”, ressalta Dias.

Publicado por Silvia Bocchese de Lima

04/06/2020 às 21:10

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