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As sedes do Governo do Paraná

Levantamento aponta os locais em que funcionou o Governo do Estado, desde o tempo em que não eram palácios

06/10/2020

Texto: Ernani Buchmann e Cassiana Lacerda*

Quando Zacarias de Góes
e Vasconcellos desembarcou
em Curitiba
para instalar o governo
da nova província, Curitiba era
uma cidade de população rarefeita,
sem atrativos, com ruas cobertas de
lama e um clima inóspito.

Escolhida capital da recém-criada
Província do Paraná, pela Lei nº 704 de 29 de agosto de 1853, a cidade tinha 27 quarteirões, com
um total de 5.819 habitantes, dos
quais 4.120 eram brancos, 43 estrangeiros,
955 mulatos e pardos
e 762 negros, destes 473 escravos.
Contava 308 casas e 52 em construção,
38 lojas de fazendas e armarinhos,
35 armazéns de comestíveis,
três de ourivesaria, cinco
ferrarias, duas mercearias, 10 olarias,
uma selaria, seis alfaiatarias,
nove sapatarias, três açougues e
uma padaria, conforme dados arrolados
por Romário Martins.

O baiano Zacarias vinha de paragens
cosmopolitas, como o Rio de Janeiro e Paris, onde passou sua
lua de mel. Nascido em Valença,
tinha 38 anos e era recém-casado
com a jovem Carolina de Vieira.
Formado em Direito pela Academia
de Olinda, Zacarias trazia
consigo também a experiência de
ter sido Deputado Geral, na corte
imperial, o que lhe deu as qualificações
para ser nomeado presidente
das províncias do Piauí e de
Sergipe.

Sua nomeação para instalar e presidir
a província do Paraná se deu
por ato do ministro Luiz Pedreira
Couto, do gabinete do Império,
recebendo instruções detalhadas.
Como prioridade, o ministro determinou
que alugasse um palácio
para o governo onde, se possível,
funcionasse também a Secretaria
de Governo, “enquanto não houver
algum próprio nacional, com
os cômodos necessários e bem assim para fazer as despesas que forem necessárias com asseio, pintura,
ornato e mobília do mesmo
edifício, para o que se expedirão
as convenientes ordens”.

Zacarias instalou o governo em um
sobrado na esquina das atuais Rua
das Flores e Barão do Rio Branco.
Ali funcionou o governo durante
algum tempo, provavelmente durante
todo o seu mandato, terminado
em 3 de maio de 1855, por
razões ainda hoje nebulosas. Ele
retornou ao Rio de Janeiro, onde
exerceu o cargo de deputado pelo
Paraná e chegou a presidir o Conselho
de Ministros do Império,
quando já era Senador pela Bahia.

Casa Michel Miller

A sede do governo depois passou
para outro sobrado, na esquina da
Rua das Flores, proximidades da
atual Rua Monsenhor Celso. O
pastor Willhem Fugmann, em seu
livro Os Alemães no Paraná, afirma
que o governo também funcionou,
no período imperial, em
uma residência de propriedade do
mestre-ferreiro Michel Miller. Não
há dados consistentes sobre a localização
da casa – provavelmente na
região que hoje compõe o Setor
Histórico – apenas sua fotografia,
que consta do acervo do Museu
Paranaense. Fato é que D. Pedro
II, ao visitar o Paraná em 1880,
fez questão de visitar o artífice alemão
em sua residência.

Entre 1886 e 1892 o Palacete Wolff,
na Praça Garibaldi, que hoje sedia
o Instituto Municipal de Turismo,
foi alugado para o Exército. O
casarão pertencia ao industrial José
Wollf, dono de cervejaria, de família
austríaca. Ali funcionou provisoriamente
o governo do estado,
durante a presidência de Joaquim
Monteiro de Carvalho, imóvel que
também foi sua moradia.

Em 1890, a Fazenda Nacional
adquiriu o palacete de Leopoldo
Ignácio Weiss, na atual Barão do
Rio Branco, transformando-o em
Palácio da Liberdade. O governo
do estado ficará sediado no local
entre 1892 e 1938.

Situado na rua de entrada da cidade,
em que, por longo tempo,
concentrou-se o poder, estava estrategicamente
próximo a quem
chegava a Curitiba pela Estação
Ferroviária. De sua sacada acenaram
para a população curitibana
diversos governadores paranaenses
e presidentes da República em
visita.

O Palácio da Liberdade foi projetado
e construído pelo engenheiro
de origem italiana Ernesto
Guaita para o seu colega de profissão
Leopoldo Ignácio Weiss. A
construção teve início no fim da
década de 1870, concluída no fim
da década de 1880.

O bonde puxado por tração animal a frente do antigo palácio do governo, construído em 1877.

Em 1929, o governo anunciou a
compra de “uma vasta área de terras
na Praça Santos Andrade, em
frente à Universidade do Paraná”
para a construção de um novo Palácio
do Governo, considerando que “o actual edificio está em más
condições”. No entanto, a nova
construção não vingou.

Quase dez anos mais tarde, o interventor
Manoel Ribas convenceu
seu amigo, o empresário e pecuarista
Júlio Garmatter a vender
a residência da família no Alto
São Francisco, pelo valor de 400
contos de réis.

O Palacete possuía sofisticação formal,
apuro construtivo e localização
privilegiada. Projetado e construído,
em 1928, pelo engenheiro
Eduardo Fernando Chaves, em
estilo art déco, teve como modelo,
a pedido de Garmatter, a Casa
Rasch do arquiteto berlinense Hermann
Muthesius, em Wiesbaden,
Alemanha, datada de 1913.

O Palácio da Liberdade

O governo do estado manteve-se
no local por 16 anos, até o governo
de Bento Munhoz da Rocha
Netto. Hoje o antigo palácio é
sede do Museu Paranaense.

Com a proximidade das comemorações
do centenário da emancipação
política do Paraná, em 1953, o governador
Bento Munhoz fez projetar
o Centro Cívico, que teria o novo
palácio do governo como protagonista.
Com arquitetura modernista,
é obra do engenheiro e arquiteto paranaense
David Xavier de Azambuja.
Sua inauguração se deu, porém,
um ano depois de encerradas as festividades
do centenário. Em 19 de
dezembro de 1954, Bento recebeu o
presidente da República, João Café
Filho, para que fossem descerradas a
fita e a placa comemorativa.

Desde então o Palácio é uma das
maiores atrações turísticas da capital,
recebendo visitantes de todos
os quadrantes. Possui uma rica coleção
de artes plásticas de autoria
de pintores paranaenses.

Em 14 de maio de 2007 o governador
Roberto Requião transferiu a
sede do governo para o outro lado
da Praça Nossa Senhora de Salete,
no mesmo Centro Cívico. O
Palácio das Araucárias, que ele havia
mandado concluir, recebeu o
primeiro escalão estadual a partir
daquela data, enquanto o Palácio
Iguaçu entrava em reforma, a primeira
de grande porte desde sua
inauguração.

Palácio São Francisco

O Palácio das Araucárias foi projetado
para ser sede do poder
judiciário. Sua construção foi
iniciada no governo Alvaro Dias
(1987-1990), mas foi embargada
algum tempo depois por problemas
na execução da obra. A partir
de então, o esqueleto do Centro
Cívico, como foi apelidado pelos
curitibanos, foi abrigo da população
sem teto e mocó de usuários
de drogas. A situação se alongou
por 15 anos, até o governo estadual
negociar a propriedade com o
Tribunal de Justiça. Alguns andares
superiores do esqueleto foram
eliminados na retomada da obra
e o Palácio enfim ganhou forma.

Até dezembro de 2010, quando o
governador Orlando Pessutti reinaugurou
o Iguaçu, o Palácio das
Araucárias foi a sede oficial do governo.
Hoje funciona ali a Secretaria
Estadual de Administração.

 

*Autora convidada. A historiadora Cassiana Lacerda é especialista em temas do patrimônio histórico paranaense

Publicado por Silvia Bocchese de Lima

06/10/2020 às 11:05

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