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Um armazém de cultura

Antonina será a próxima cidade paranaense a receber uma unidade cultural do Sesc PR. O local escolhido é símbolo do turismo do litoral.

27/07/2020

Baía de Antonina, com destaque para as ruínas do Armazém Macedo. Crédito: Shigueo Murakami

 

Texto: Silvia Bocchese de Lima

Antonina foi a única cidade
paranaense contemplada
pelo Programa
de Aceleração do
Crescimento Cidades Históricas,
do governo federal, que destinou
recursos para a restauração de
três importantes prédios históricos:
o Armazém Macedo, a Igreja
Bom Jesus do Saivá e a Estação
Ferroviária.

Com a conclusão das obras pelo
Instituto do Patrimônio Histórico
e Artístico Nacional (Iphan), que
tiveram início ainda em 2018, a
Prefeitura de Antonina cedeu ao
Sesc PR, pelo prazo de 20 anos, o
uso real do espaço, sendo renovável
pelo mesmo período. Na última
reunião do Conselho Regional do
Sesc PR, em maio, houve a aprovação
da cessão, que aguarda parecer
do Departamento Nacional.

Ruínas do Armazém Macedo – Crédito Shigueo Murakami

A partir da aprovação do Departamento
Nacional e contrato entre
o Sesc e a Prefeitura de Antonina
será de responsabilidade do Sesc
PR o investimento em mobiliário
e o planejamento das ações e
serviços que serão ofertados no
local. “A cidade já tem um grande
potencial na área cultural, pois realiza
diversos eventos ao longo do
ano, entre eles o Festival de Inverno,
organizado pela Universidade
Federal do Paraná, do qual o Sesc
PR é um dos apoiadores. Para a
instituição, é de extrema relevância
ter essa unidade na cidade, o
que potencializará as ações de cultura,
além de fomentar o turismo
local”, enfatiza o diretor regional
do Sesc PR, Emerson Sextos.

O Armazém Macedo agora revitalizado. Crédito: Thiago Afonso de Souza

O prefeito de Antonina, José
Paulo Vieira Azim, revela que o
prédio restaurado, um dos mais
importantes exemplares da arquitetura
industrial do século XIX,
com inspirações coloniais, está
localizado na Baía de Antonina e
parte dele se projeta para dentro
do mar. “A restauração e ocupação
são importantes, embasados
em três pilares: o estético, que é a
beleza arquitetônica do prédio; o
subjetivo, que é o sentimento que
desperta na comunidade, e o objetivo,
que é a geração de emprego e
renda e o desenvolvimento da cultura
e do turismo”, ressalta.

Ele também conta que a escolha
do Sesc para assumir o local deu-se
pela experiência que a instituição
detém em outros projetos semelhantes,
como o Paço da Liberdade,
em Curitiba, a Estação Saudade,
em Ponta Grossa, e o Cadeião
Cultural, em Londrina. “Desde o
início optamos pelo Sesc por ser
uma instituição respeitável, que valoriza
a questão cultural sem dissociá-la da realidade da vida das pessoas.
Não tenho dúvidas que hoje
Antonina, berço da cultura do
nosso estado, está a um passo de
se reinserir como protagonista no
cenário estadual”, pontua Azim.

Foto aérea – Crédito: Prefeitura de Antonina

Sobre o fomento do turismo, o
presidente do Sistema Fecomércio
Sesc Senac PR e vice-governador
do Paraná, Darci Piana, lembra
que o Armazém Macedo faz parte
de uma série de outros prédios
do Centro Histórico de Antonina
que foram restaurados, como a
Estação Ferroviária. “Isso tudo faz
parte da história do nosso estado e
ela merece ser preservada”. Piana
afirma ainda que o governo do estado
está empenhado em valorizar
o litoral paranaense como destino
turístico: “Antonina tem vocação
de destino turístico. Nossa nova
unidade será uma grande atração
para os visitantes”.

ARMAZÉM MACEDO

Considerada um dos mais importantes
ciclos econômicos do Paraná
e chamada de ouro verde paranaense,
a erva-mate foi responsável
pelo desenvolvimento do estado,
pela construção de importantes
vias de acesso – como a Estrada
da Graciosa e a construção da Estrada
de Ferro Curitiba-Paranaguá
–, pelo surgimento dos barões do
mate, pela autonomia da província.

Casal Laurinda Rosa Loyola de Macedo e José Ribeiro de Macedo – Acervo Museu Paranaense

A produção e o comércio da
erva-mate estavam em ascensão já
no ano de 1820, mas foi depois
da emancipação de São Paulo, em
1853, que se tornou um dos pilares
da economia da nova província e
o principal produto de exportação.

Embora a Região Centro-Sul do
estado fosse o núcleo de produção,
os engenhos para beneficiamento
da erva estavam localizados
nas cidades do Leste e uma delas,
era Antonina. Foi a partir dali, em
1869, que o industrial e exportador
de erva-mate, José Ribeiro de
Macedo, o Comendador Macedo,
fundou sua empresa dedicada à
compra e à venda de erva-mate,
edificando o Armazém Macedo,
às margens da Baía de Antonina.
“Durante décadas, vagões e vagonetes
com produtos vindos de
serra acima chegam à entrada do
armazém através de trilhos, que
percorriam algumas ruas da cidade
até o cais. Com arquitetura eclética
e características estéticas neoclássicas,
a edificação possui soluções
construtivas típicas da arquitetura
luso-brasileira. É possível visualizar
vãos e porões com a ventilação
necessária para o adequado armazenamento
das mercadorias”, traz
o Inventário Turístico Expandido de
Antonina, produzido pelo Instituto
A Mudança Que Queremos.

HISTÓRIA

Rafael Greca de Macedo, prefeito
de Curitiba e autor do livro Curitiba,
Luz dos Pinhais, revela que seu
bisavô, o Comendador Macedo,
era um abolicionista e, apoiado
por um grupo de maçons, entre
eles Ildefonso Pereira Correia, Petit
Carneiro, Emiliano Pernetta e Ermelino de Leão, financiava o
resgate de escravos – uma atividade
transgressora na época – e, a partir
do Armazém Macedo, envia escravizados
para países da América Latina.
“Sequestravam de seus donos
os negros em risco. Colocavam-nos
dentro de barricas de erva-mate,
despachando-os em segredo, dentro
dos navios, a partir do Armazém
do Comendador Macedo, em
Antonina, para Montevidéu e Buenos
Aires. Lá, outros abolicionistas
maçons os recebiam, dando-lhes
dinheiro para começar vida nova”.

Macedo foi agraciado, em 1874,
com a Comenda da Imperial
Ordem da Rosa, por decreto da
Princesa Isabel.

RESTAURO

O Armazém Macedo era dividido em duas partes: uma destinada ao
depósito de erva-mate – com piso com arcadas de meio metro de altura,
a fim de evitar que o produto entrasse em contato com o solo molhado
pela maré – e, outra, à habitação da família Macedo.

As obras de restauro recompuseram a cobertura dos barracões, fachada,
fundações e criaram espaços que abrigarão uma unidade cultural do Sesc,
destinada a exposições, auditório, café, salas de aulas, e de convivência. Até
o fim de 2020, a unidade estará em funcionamento em Antonina.

Publicado por Silvia Bocchese de Lima

27/07/2020 às 12:18

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