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Artigo: As quedas na economia mundial e a opção externa do Brasil

Neste momento de pandemia enfrentada pelos brasileiros, surgem questões que abrem espaço para a emissão de juízos relacionados ao desempenho de países e economias. Dentre as informações disponíveis, justifica-se uma abordagem a partir de desempenhos econômicos divulgados por três diferentes instituições ou órgãos de pesquisas.

29/05/2020

Neste momento de pandemia enfrentada pelos brasileiros, surgem questões que abrem espaço para a emissão de juízos relacionados ao desempenho de países e economias. Dentre as informações disponíveis, justifica-se uma abordagem a partir de desempenhos econômicos divulgados por três diferentes instituições ou órgãos de pesquisas.

O primeiro se refere a pesquisas da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico-OCDE,
divulgadas neste mês de maio (com dados até abril), trazendo informações obtidas pelo indicador CLI Composite Leading Indicators (Indicador Principal Composto, contendo dados conjunturais e estruturais). A OCDE é integrada por 37 países, incluindo os mais desenvolvidos do mundo (o Brasil é candidato à filiação). Os resultados indicaram quedas significativas em relação às projeções anteriores das maiores economias do mundo para 2020, devido o impacto das medidas de contenção adotadas por governos visando limitar a evolução interna do coronavírus.

As providencias de isolamento social e quarentena em vários países, mais os efeitos decorrentes da própria pandemia, provocaram em abril restrições maiores na produção interna (especialmente na indústria de transformação), com reflexos sobre o varejo (exceto farmácias e supermercados); a confiança
dos agentes econômicos para 2020 e 2021 foi interrompida de forma brusca, tendo em vista os prejuízos com lojas fechadas, escolas, transporte urbano, novos padrões de gastos e todos os efeitos perversos da situação.

Conforme a OCDE, em 10 dos 11 países analisados, ocorreram quedas de confiança foram significativas em
diversos segmentos para um período futuro de seis a nove meses. Recuperações seriam viáveis somente a partir de 2021. O único país que é visto como exceção neste momento, afirma a entidade, é a China, que já adotou a flexibilização das restrições na economia, na circulação de pessoas e abriu espaço para reativação de diversos ramos do sistema de produção, especialmente indústria, varejo e relações comerciais com o exterior. A OCDE esclarece que suas projeções, consideram variáveis atuais disponíveis.

A pesquisa também conclui que a economia brasileira ocupa o terceiro lugar dentre os que podem enfrentar
maiores dificuldades na pandemia, pois a queda do Brasil em abril/ 2020 foi de -7,82%, comparado a abril/2019. A retração em abril/2020 indica crescimento expressivo da queda comparado ao mês anterior (março/2020), quando havia caído -1,26%. Os outros dois países com quedas maiores foram a Rússia, -9,17% e o Reino Unido, -7,93%.

Um segundo indicador se refere ao desempenho do PIB em oito países no primeiro trimestre de 2020, obtido pelas respectivas estruturas de pesquisa, e que endossam as informações da OCDE.

A dimensão dos valores negativos do PIB nestes países permite questionar suas perspectivas para 2020 e os demais efeitos multiplicadores restritivos decorrentes. A seguir, constam dados do PIB do primeiro trimestre destes oito países:

As projeções disponíveis apresentam restrições diversas à respectiva recuperação. Cabe considerar as novas realidades para: superação do desemprego; quedas na renda na massa de salários e poder de compra; redução do PIB nos próximos trimestres; gastos orçamentários com estruturas de saúde imprevistos pelos governos e as transferências de renda para a população; demora no processo de recuperação que dependerá do surgimento da vacina contra o vírus; readequação provável do sistema produtivo aos novos hábitos e padrões.

Uma possibilidade é a de melhor desempenho para a China e da Alemanha, entre os países citados. Os EUA poderão depender do futuro Presidente, a ser eleito em novembro.

Após abordar os dois aspectos iniciais cabe agora considerar um terceiro dado, referência importante para a economia brasileira, sobre a performance das relações comerciais externas com o resto do mundo referentes ao primeiro quadrimestre de 2020. São números importantes para a economia brasileira, por enumerarem superávits nas contas do balanço de pagamentos no período e nas previsões das contas do ano, com
destaque para produtos do agronegócio, no qual o Paraná tem importante participação.

O bom desempenho do comércio exterior brasileiro nos quatro primeiros meses de 2020 possibilitou ao país atingir um volume de exportações US$ 67,4 bilhões, com importações na casa de US$ 55,6 bilhões, representando um superávit na balança comercial de US$ 11,8 bilhões. A destacar, como principais fatores a contribuir para o saldo positivo, a competitividade dos produtos primários brasileiros; a grande demanda pelos países da Ásia, que absorveram quase metade (47,2%) das exportações brasileiras; o crescimento do comercio externo brasileiro, de 15,5% entre janeiro-abril/2020 comparado a igual período de 2019; e a cotação cambial do dólar que favorece o exportador (US$ acima de R$ 5,00).

No período destacaram-se as vendas de grandes volumes de soja, farelo de soja, carnes bovinas, carnes
suínas e algodão, produtos em que o Paraná tem sido referência. As exportações do agronegócio brasileiro compensaram as quedas nas exportações de manufaturados em geral, como veículos, celulose ou motores. A concentração de vendas para países da Ásia, como China, Hong Kong, Macau, Coréia do Sul, Cingapura e Tailândia, atuaram para compensar as quedas nas vendas no período para os EUA, países do Mercosul (Argentina, Paraguai, Uruguai) e outros da América do Sul, como Chile e Peru.

Entre os países asiáticos está aquele de maior participação nas relações comerciais externas do Brasil, a China, o maior importador brasileiro e gerador dos maiores superávits na balança comercial do Brasil. Nos anos de 2019 e 2020 (janeiro-abril), os valores foram:

Outro país importante nas relações comerciais externas do Brasil é os EUA. As transações entre os dois países se destacam como elevadas, mas foram deficitárias para o balanço de pagamentos do Brasil, em 2019  e 2020 (janeiro-abril). Os dados foram:

Para 2020, a previsão do SECEX/Ministério da Economia, é do Brasil atingir um superávit na balança comercial de US$ 46 bilhões, próximo ao saldo de 2019. Com isso as contas comerciais do Brasil com o exterior podem se revelar um ponto de sustentação importante para a economia brasileira, considerando-se os efeitos associados à manutenção do bom desempenho do agronegócio; os efeitos multiplicadores positivos da agroindústria, onde o Paraná tem grande presença; os benefícios associados ao setor primário, entre os quais, geração/manutenção de emprego, volume da massa de salários pagos e poder de compra vinculado.

As previsões atuais de desempenho do PIB brasileiro este ano é de queda entre 4,0% e 5,0%, conforme estudos do Banco Central. O percentual poderá ser até maior, neste momento de recessão econômica e de questionamentos sobre a extensão da pandemia coronavírus, além dos adicionais de gastos do setor público. No entanto, a queda está sendo amenizada pelo excelente desempenho do agronegócio e do setor primário brasileiro, com grande participação do Paraná.

Como já analisado, a contribuição do agronegócio nas relações comerciais externas brasileiras, especialmente com o crescimento da demanda dos países asiáticos, permitirá, sem dúvida, conter perdas no PIB em 2020. A oferta e disponibilidade pelo agronegócio de produtos básicos de alimentação, pelas previsões existentes, são variáveis importantes para a estabilização de preços e controle de taxas de inflação. O bom desempenho do comercio externo irá contribuir para compensar os impactos de queda prevista no PIB brasileiro para 2020, na esteira de incertezas geradas pelo coronavírus.

Darci Piana
Presidente do Sistema Fecomércio Sesc Senac PR e vice-governador do Paraná

Publicado por Isabela Mattiolli

29/05/2020 às 15:20

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