24/03/2020
Silvia Bocchese de Lima*
“Paraíso terrestre no Brasil”.
Foi assim que o botânico e
naturalista francês Auguste de
Saint-Hilaire descreveu a Região
dos Campos Gerais do Paraná
quando visitou a região em 1822.
Ele foi responsável por escrever livros
sobre as paisagens brasileiras
e os costumes aqui praticados no
século XIX. Em uma das obras
pontuou que “esses campos constituem
inegavelmente uma das mais
belas regiões que já percorri desde
que cheguei à América!”.
A abertura do trajeto pioneiro –
por onde passavam os tropeiros –,
que ligava Viamão, no Rio Grande do Sul, a Sorocaba, em São Paulo,
certamente marcou o início do desenvolvimento regional e a formação
das cidades dos Campos Gerais. Castro, a primeira a ser constituída
na região e uma das primeiras do Paraná, é exemplo dessa ação, assim
como a Lapa, Rio Negro, Campo do Tenente, Porto Amazonas, Palmeira,
Ponta Grossa, Tibagi, Piraí do Sul, Jaguariaíva e Sengués.
Ponta Grossa, desde muito tempo, é destino recorrente de minha família
nas festas de fim de ano e, vez ou outra, durante o ano, mas carrego
uma lembrança marcante de lá: os ventos recorrentes e intensos.
A pouco menos de 30 quilômetros do centro de Ponta Grossa está localizado o Parque Estadual de Vila Velha, em uma área de
três mil hectares, tombado em
1966 pelo patrimônio Histórico
e Artístico do Estado. Acredita-se que a formação dos arenitos
tenha mais de 300 milhões de
anos. Essas pedras foram transformadas
ao longo do tempo,
principalmente, pela ação das
chuvas e dos ventos, tomaram
variadas e gigantescas formas
que mexem com a imaginação
de quem visita o espaço seja a
Taça, a Bota, o Índio, a Garrafa
ou o Camelo.
Não é difícil entender o motivo
pelo qual padres jesuítas passavam
longos períodos contemplativos,
meditando em frente
a uma cascata de 30m de altura,
na região de Itaiacoca, em Ponta
Grossa. A queda d´água é originária
do Rio Quebra Perna, que
deságua em uma furna, uma espécie
de cavidade na encosta de
uma rocha de 43m de altura. Alguns
chegam a descrevê-lo como
um “anfiteatro de pedras”. Aos
caboclos e aos tropeiros que passavam
pela região é atribuído o
nome dado ao local.
O atrativo turístico está localizado
em uma propriedade privada, a 24
quilômetros do centro de Ponta Grossa. Para chegar até o espaço é preciso
percorrer um trajeto de mil metros a pé. A trilha é adaptada para
cadeirantes e pessoas com mobilidade limitada, mas apresenta obstáculos
naturais.
A manutenção e a valorização do espaço são de responsabilidade da
empresa Águia Florestal. As visitas podem ser realizadas de quinta-feira
a domingo e aos feriados, das 9h às 17h.
Outra beleza natural de Ponta Grossa encontra-se no distrito de Itaiacoca:
a Cachoeira da Mariquinha – uma Unidade de Conservação localizada a aproximadamente 30 quilômetros do centro da cidade
de Ponta Grossa.
Para ter acesso à queda d´água de
30 m de altura e ao balneário, é
necessário o visitante percorrer
uma trilha, repleta de arenitos e
capões de mata nativa. O local é
ideal para caminhadas nas trilhas
e acampamentos, equipados com
banheiros para banhos e estacionamento.
Para agendamentos e informações
(42) 999 92-7579 ou (42) 98834-
7490.
Em dezembro do ano passado, o
Sistema Fecomércio Sesc Senac
PR entregou à população de Ponta
Grossa a antiga estação de trem da
cidade, totalmente restaurada. Por
esse espaço, de importância histórica
e parte da memória afetiva da
cidade, passaram personagens da
política nacional, inventores, escritores
e viajantes, muitos viajantes.
Hoje, o prédio abriga uma unidade
cultural do Sesc, uma unidade
de Educação Tecnológica do Senac
e um café-escola.
Incertezas políticas, econômicas e a escassez de terras na Europa após o
término da II Guerra Mundial impulsionaram a saída de muitas famílias
holandesas do país de origem e a busca por um novo lar. Instalados nos
Campos Gerais, em Castro, criaram a Colônia e a Cooperativa Agropecuária
Castrolanda, mantendo a tradição, arquitetura, grupo folclórico,
gastronomia e língua.
Novamente os ventos da região me trouxeram novidades, ao conhecer
o Memorial da Imigração Holandesa. Ele foi construído em 2001 e traz
uma réplica em tamanho original do moinho de vento Woldigt, situado
a Norte da Holanda. A construção tem 37 m de altura e os habitantes
garantem que a estrutura, feita em madeira, permanece em pé sem o uso de pregos. O centro cultural ainda
abriga um salão para eventos,
restaurantes, loja de artesanatos
e, de sexta-feira a domingo e aos
feriados, é aberto à visitação das
13h às 18h.
Outro local a se conhecer é o
Museu Histórico Castrolanda.
O espaço representa uma casa de
fazenda, característica da Região
Nordeste da Holanda, de onde
veio a maioria dos imigrantes da
localidade. No espaço visualiza-se como eram os cômodos das
residências, objetos pessoais, decoração
e é possível visitar uma
exposição.
Com um acervo de mais de mil
peças, o Museu do Tropeiro, primeiro
no Brasil a resgatar a história
e a memória do tropeirismo,
foi inaugurado em Castro,
em 1977. Entre os objetos em
exposição estão documentos, vestimentas, montarias, mapas, móveis
de época, objetos sacros e pessoais dos antigos viajantes.
A Casa de Sinhara, localizada também em Castro, retrata a vida da mulher
castrense no período do tropeirismo e, no prédio, é possível conhecer
objetos, móveis e utensílios domésticos.
O museu e a casa funcionam de terça a sexta-feira, das 8h30 às 11h30 e
das 12h30 às 17h. Os espaços também são abertos ao público no primeiro
domingo de cada mês, das 9h às 17h.
Impossível não impressionar os olhos com o charmoso Parque Histórico
de Carambeí – o maior museu histórico a céu aberto do Brasil, retratando
a saga da imigração holandesa no estado e, hoje, é um três museus
mais visitados do Paraná, com cerca de 134 mil visitantes em 2019. Com
100 mil metros quadrados, o parque reúne jardins e edificações que
compõe o memorial da imigração e todas as vezes que visito fico encantada
com a relação da cultura holandesa com a música. Em quase a
totalidade das casas retratadas há partituras, pianos e harmônios – uma
espécie de órgão que produz um som parecido com o do acordeom.
O parque é composto pela Casa da Memória – que abriga o acervo
do museu, uma confeitaria e um restaurante, onde aos domingos e
feriados é servido um almoço que combina a gastronomia Indonésia
à Neerlandesa –, o Parque das Águas, a Vila Histórica, os Jardins e o
Museu do Trator.
A cada dois anos é promovida
no parque, em maio, a Festa dos
Imigrantes; e, anualmente, no 1º
sábado de julho, o espaço recebe
o Arraiá no Parque, a maior festa
caipira dos Campos Gerais, com
mostra de quadrilhas, gastronomia
típica e fogueira de 11m de
altura. Mais de 10 mil pessoas
são esperadas todos os anos para
a Festa Medieval, realizada no
terceiro fim de semana de agosto,
reunindo um público caracterizado
para celebrar a Idade Média.
Durante todo o mês de dezembro
os visitantes acompanham uma
programação especial no evento
Natal no Parque, que fica aberto
para apresentações à noite, com
show de música, luzes e teatro. O
parque está aberto para visitação
de terça a sexta-feira, das 11h às
18h e, aos sábados e domingos,
das 11h às 18h30.
Localizada entre o primeiro e segundo
planalto paranaense está
a Serra de São Luiz do Purunã, repleta de cânions, lagos, recantos e
cachoeiras. São Luiz do Purunã também é um distrito de Balsa Nova e
conta com paisagens espetaculares, além de ser local próprio para turismo
de aventura, como escaladas e rapel, cavalgadas, caminhadas, trilhas,
cicloturismo.
Rota dos antigos tropeiros, conta com diversas pousadas, hotéis e restaurantes
que ofertam a comida tropeira, além da costela de fogo de
chão, que foi oferecida a Dom Pedro II quando esteve na região para
pernoitar.
Um pouco antes da junção do Rio dos Papagaios com o Rio Iguaçu foi
construída, em 1880, a Ponte Ferroviária dos Arcos, com extensão de
585m e 60m de altura, é tombada pelo patrimônio artístico.
O Parque Estadual de Guartelá
está localizado nos municípios de
Castro e Tibagi, possui uma área
de 798 hectares. Em seu território
encontra-se o Canyon Guarterá,
cortado pelo Rio Iapó sendo considerado
o maior canyon do Brasil
em extensão, além de corredeiras,
cachoeiras, grutas e inscrições rupestres
dos primeiros habitantes
da região. O parque permanece
aberto de quarta-feira a domingo
e nos feriados nacionais, das 9h às
16h30.
A região dos Campos Gerais é rica
em atrativos naturais, como a Cachoeira
da Fenda, em Arapoti; Parque
Estadual do Cerrado e a Área
de Proteção Ambiental Estadual da
Escarpa Devoniana, em Jaguariaíva; as pinturas rupestres, em Piraí do Sul;
a Lagoa Dourada e as furnas, em Ponta Grossa; a Gruta do Cercado e o
Recanto dos Papagaios, em Palmeira e o Salto Santa Rosa, em Tibagi.
O turismo gastronômico passa pelas irresistíveis tortas de Carambeí,
no charmoso e disputado Frederica’s Koffiehuis; pelo feijão tropeiro,
arroz carreteiro e farofa de carne, prato típico de Castro; pelos queijos
da Colônia Witmarsun que receberam selo de indicação geográfica do
Sebrae/PR, atestando a qualidade do produto; pela Alcatra do Espeto,
de Ponta Grossa, pelo Pão no Bafo, de Palmeira e pelo Entrevero de
Pinhão, de Telêmaco Borba.
A região ainda promove eventos como a Müchen Fest, a Festa Nacional
do Chope Escuro, que ocorre em Ponta Grossa desde 1990; a Festa do
Carneiro no Rolete, de Carambeí, além dos espaços culturais como a Casa
da Memória e o Condomínio Industrial Conde Matarazzo, de Jaguariaíva.
A beleza que maravilhou o botânico francês continua a me deleitar e a
encantar turistas de todo o mundo que visitam a região, em busca do
turismo cultural, de aventura, gastronômico, rural, religioso, e do ecoturismo
ou, como eu, do carinho familiar.
* * * * *
*Apesar de ser natural de Pato Branco, Silvia Bocchese de Lima tem familiares nos Campos Gerais. Viaja diversas vezes pela região e a cada visita, uma nova descoberta.
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