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A capital mais charmosa do país

A falta de belezas naturais e o clima frio não foram obstáculos para Curitiba se tornar uma cidade linda e charmosa, atraindo visitantes de todo o mundo.

24/03/2020

      Karen Bortolini*

A fundação oficial de Curitiba
traz a data de 29 de março de
1693, mas já em 1668 a justiça
tinha sido instalada na pequena
vila, com a inauguração do pelourinho, na
área que hoje se localiza atrás do Sesc Paço
da Liberdade, na Praça Generoso Marques.

 

Universidade Livre do Meio Ambiente. (Crédito imagem: Murilo Ribas)

Sem belezas naturais, localizada no primeiro
planalto paranaense, com um clima considerado
inóspito para um país tropical, Curitiba
precisou encontrar outros meios para se
tornar uma cidade atraente e atrativa. Assim,
apoiou-se na singeleza de sua população,
resultado da presença portuguesa, de afrodescendentes
e da imigração de povos europeus,
como alemães, italianos, poloneses e
ucranianos, para criar uma cidade voltada ao
racionalismo.

Capital de um estado jovem – o Paraná foi desmembrado
de São Paulo em 1853 – Curitiba
demorou quase cem anos para encontrar uma
identidade passível de ser reconhecida pelo restante
do país. As comemorações do centenário
da emancipação trouxeram com elas obras arquitetônicas de porte, como o
Centro Cívico, tendo o Palácio Iguaçu como maior atração, o Teatro Guaíra
e a Exposição Internacional, realizada no bairro do Tarumã.

Vinte anos mais tarde, a revolução urbanística implantada pelo prefeito
Jaime Lerner e seus colegas arquitetos do Instituto de Planejamento e
Pesquisa de Curitiba (IPPUC), mostraram ao Brasil que Curitiba era
uma cidade diferente.

Teatro do Paiol. (Crédito imagem: Murilo Ribas)

Os eixos viários, a criação de parques urbanos com suas extensas áreas
verdes, a reciclagem de prédios históricos, como o Teatro do Paiol e, mais
adiante, construções de vanguarda, como a Ópera de Arame, o Jardim Botânico,
a Pedreira Paulo Leminski e o deslumbrante Museu Oscar Niemeyer
tornaram a cidade um ponto de
atração internacional.

Várias vezes considerada uma das melhores cidades do mundo para
se viver, Curitiba recebe dezenas
de eventos de grande porte todos
os anos, sediados em amplas estruturas
próprias para congressos
e exposições. Sua ampla oferta de
hotéis e restaurantes, os polos gastronômicos,
a vida cultural intensa
e os locais turísticos fazem da
capital paranaense um destino de
primeiro mundo.

Jardineira da Linha Turismo. Ao fundo, Catedral Basílica Menor de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais. (Crédito Imagem: Murilo Ribas)

 

OS ATRATIVOS

Uma ótima opção para quem deseja
conhecer os principais pontos
turísticos da cidade é o ônibus da
Linha Turismo de Curitiba. Eu e
o fotógrafo Murilo Ribas percorremos
o trajeto de 40km para registrarmos
as belezas da capital e visitarmos
os locais que fazem parte
da minha memória afetiva.

Com posse de nossos cartões
transporte, embarcamos na Praça
Tiradentes, o Marco Zero da
capital. “Essa igreja é linda!”, comentou
uma passageira sobre a
Catedral Basílica Menor de Nossa
Senhora da Luz dos Pinhais, construída em 1893, ao apreciar a paisagem
de dentro do ônibus. Na condução, a narração das principais
informações sobre os pontos turísticos são apresentadas nos Inglês, Espanhol,
Francês e Português.

Nossa segunda parada foi na Rua XV de Novembro, um calçadão onde
funciona importante eixo comercial. Desenvolvido ao longo do século XX,
tornou-se também ponto de encontro dos curitibanos e turistas. Um dos
destaques, tanto em arquitetura quanto em programação, é o Palácio Avenida.
Tradicional por suas apresentações natalinas, traz multidões para assistir
ao coro infantil, reconhecido pelas crianças cantarem nas janelas do prédio
histórico. Seguimos à Rua 24 Horas, construída com moderna arquitetura,
em 1991. Um ponto de gastronomia, happy hours, café e galerias de arte.

A parada seguinte foi no Museu Ferroviário. Passamos em frente ao
Shopping Estação, na Praça Eufrásio Correia. O local remete a minha
adolescência, pois quando estudava no Colégio Estadual do Paraná, não
via a hora de descer pela canaleta
do expresso, e entrar no shopping,
ao fim dos anos 1990. A pressa
era por conta do valor da entrada,
pois após as 18h, era cobrado o valor
de R$ 3. Há muitos anos não
se cobra mais entrada.

Passamos pelo Teatro do Paiol,
inaugurado com este nome em
1971, mas construído em 1906,
como paiol de pólvora. Nos direcionamos
ao Jardim Botânico,
uma das principais paradas, onde
a maioria dos passageiros desce
para apreciar o parque e o Palácio
de Cristal. Fomos até o Mercado
Municipal, ao lado da Rodoferroviária,
um destino de compra
de iguarias e produtos orgânicos,
além das diversas opções na praça
de alimentação, que vão da comida
japonesa ao pastel.

Da frente do Teatro Guaíra, avistamos
o prédio da Universidade
Federal do Paraná, fundada em
1912. Esta é a primeira universidade
do Brasil. Muito próximo, avistamos
o Sesc Paço da Liberdade,
antigo Paço Municipal, construído
no estilo neoclássico em Art
Nouveau, em 1916. Foi construído
para abrigar Prefeitura de Curitiba e a Câmara de Vereadores, depois
sediou o Museu Paranaense e preserva a arquitetura original, como a
unidade de Cultura do Sesc. Local de apresentações artísticas e cursos
voltados a todos os públicos, conta com um charmoso café do Senac.

No bairro do Centro Cívico, avistamos o prédio da Prefeitura de Curitiba,
e o Palácio Iguaçu, sede do governo do estado. Dentro do ônibus,
um casal de Jundiaí estava encantado com as belezas da cidade. “Estamos
em dúvida sobre onde vamos descer. Esse Museu do Olho compensa?”,
perguntou a esposa, Sabrina Giovanni Giarola. Respondi a ela
que o projeto é de Oscar Niemeyer e que sempre há alguma exposição
interessante lá.

 

Museu do Olho. (Crédito imagem: Murilo Ribas)

 

No bairro Vista Alegre, o Bosque Alemão, construído em homenagem aos imigrantes germânicos, conta com 38 mil m2 de mata nativa, que faziam parte da antiga chácara da família Schaffer. Em seu interior, há uma réplica da Igreja Luterana, construída em 1933, com elementos decorativos
e neogóticos; e o caminho de João e Maria, do conto dos irmãos
Grimm, que leva até a Casa da Bruxa, uma casa de contos. O passeio se
encerra em um mirante de madeira, com vista panorâmica da cidade e da
Serra do Mar.

O Parque Tanguá também estava em nosso roteiro. Inaugurado em
1996, representa uma etapa do projeto de preservação do curso do Rio
Barigui. Com área total de 450 mil m2, seu grande destaque são as duas
pedreiras, unidas por um túnel de 45 metros de extensão, podendo ser
atravessado a pé, por uma passarela sobre a água.
Passamos também pelo Parque
São Lourenço, que já me serviu de
pista de corrida e bike por muitos
anos. Local onde levei meu filho
brincar quando pequeno, assim
como no Bosque do Papa. Um
fato curioso é que o parque surgiu
da enchente de 1970, pela necessidade
de reparar os estragos do estouro
da represa do São Lourenço.

Já o Bosque do Papa é um marco
da história da imigração polonesa
em Curitiba. Suas construções
em madeira serviram de moradia
para os primeiros imigrantes. Elas
foram transferidas para o bosque
em homenagem à visita do papa
João Paulo II a Curitiba, no início
da década de 1980. Com área de
46.337 metros quadrados, já abrigou
uma chácara de araucárias.

Ópera de Arame. (Crédito imagem: Murilo Ribas)

Na Ópera de Arame, uma das
lembranças mais marcantes, a formatura
de minha mãe e de tantas
outras pessoas importantes na
minha vida. Até hoje, a estrutura
recebe eventos e formaturas, assim
como a dos nossos alunos do
Colégio Sesc São José. Ela fica ao
lado da Pedreira Paulo Leminski,
histórica por sediar grandes shows
nacionais e internacionais. Impossível não remeter à minha
adolescência, quando ia à Pedreira para assistir a shows desde axé,
como Daniela Mercury, até rock, como Arctic Monkeys.

 

 

Feira de Artesanato, Praça Garibaldi. (Crédito imagem: Murilo Ribas)

 

O ônibus percorre também o Centro
Histórico de Curitiba, mas minha
sugestão é um passeio a pé. A
noite agitada dos bares do Largo
da Ordem ou a feirinha de artesanato
podem ser mais aproveitadas
durante o passeio possível de ser
feito por uma extensa calçada de
paralelepípedos. Em meio às construções
restauradas, uma série de
bares e restaurantes convida turistas
e curitibanos. É no mesmo
espaço, mas aos domingos, que
a feirinha se torna um dos locais
mais visitados. Lá se encontra de
tudo, desde a produção caseira de roupas e objetos de decoração, até
pratos produzidos de forma artesanal.

O Largo da Ordem abriga o Memorial de Curitiba, concebido para
abrigar atividades culturais, como exposições, apresentações cênicas e
musicais. O espaço também recebe seminários, palestras, oficinas, congressos
e lançamentos de livros. Suas instalações compreendem salas de
exposições e um auditório de 144 lugares, além do Mirante do Marumbi
e uma praça interna para grandes eventos.

Palacete Belvedere. (Crédito imagem: Murilo Ribas)

 

Entre as mais antigas edificações da cidade, está a Igreja da Ordem de
São Francisco, datada de 1737. Também compõem o Centro Histórico
o Relógio das Flores, minha parada obrigatória ao vir para o Centro
na infância; a Fonte da Memória – servida de ponto de referência para
encontros naquela região; as Ruínas São Francisco, que geralmente se
transformam em palco no Festival de Teatro de Curitiba, com apresentações
abertas ao público.

Acima do Largo da Ordem, na Praça João Cândido, o Belvedere, prédio
construído em Art Nouveau, em 1915, na região mais alta da cidade.
Tombado patrimônio histórico, já foi mirante, rádio, observatório astronômico,
União Cívica Feminina Paranaense, entre outros. Hoje abriga a
Academia Paranaense de Letras e um Café-escola do Senac, inaugurado
em 19 de dezembro de 2019.

Nas proximidades, apesar de não compor o espaço histórico, mas também
situado ao Centro, está o Passeio Público, o primeiro parque de
Curitiba. Quantas vezes quando criança fui levada para andar no pedalinho,
programa que se estendeu com a chegada do meu filho. Ele foi o
Jardim Botânico de Curitiba, com pontes e ilhas em meio à vegetação.
Também foi o primeiro zoológico da cidade, abrigando animais até hoje.

Seu portão é uma réplica cópia do que existiu no Cemitério de Cães de
Paris. Apesar de sua degradação no passar das décadas, atualmente vem
sendo revitalizado.

A vida noturna em Curitiba é um atrativo à parte. Desde o Bar Palácio,
inaugurado em 1930, tradicional ponto de encontro de jornalistas boêmios,
até os bares mais modernos, que de tempos em tempos precisam se reposicionar
devido à exigência do público curitibano. O Palácio, conhecido por
servir o churrasco paranaense e a cerveja gelada, é um marco da noite
curitibana. Os professores contavam que o público feminino era praticamente
inexistente, e depois, as mulheres só entravam acompanhadas.

O tour noturno vai das baladas para os mais jovens aos bares para
sentar e conversar. Entre esses, o Bar do Alemão, local de turistas e
moradores, com o clássico Submarino, um chopp em caneco servido
com uma canequinha de Steinhäger dentro, que pode ser levada
como souvenir. Há ainda opções na Avenida Batel, com praticamente
um bar colado ao outro; na Rua Itupava, na Rua São Francisco e na
Avenida dos Estados, entre outras.

Uma novidade é o Curitibéra, movimento para unir os microcervejeiros,
que fazem a cidade ser reconhecida pelas melhores produções artesanais
do país. A proposta é oferecer uma espécie de tour com degustação de
cervejas, ou “béras”, maneira dos curitibanos chamarem a bebida. Entre
as cervejarias estão a Beer Night, a Beer Train e a Cervejaria Klein. Os
destinos podem ser escolhidos por rotas conforme os pacotes turísticos.

GASTRONOMIA

O tempo instável da cidade é uma das características. As temperaturas
baixas que nos surpreendem até mesmo no verão, e o efeito “cebola”
no inverno, em que saímos cheios de casacos vamos nos desfazendo das
camadas ao longo do dia, nos torna indecisos sobre as opções de roupa.
Mas a certeza é de que com as temperaturas baixas, os restaurantes nos
oferecem deliciosos pratos. As iguarias são servidas em todas as estações,
mas como Curitiba não as cumpre de acordo com o calendário, qualquer
dia torna-se convidativo.

Os cardápios são os mais variados: hambúrgueres artesanais, churrascarias,
comida oriental, massas, fondues, sopas, pizzas, e o que mais se desejar.
Mas o típico pinhão é aguardado por todos no inverno, assim como
a feirinha da Praça Osório, que além de oferecer a iguaria acompanhada
de quentão, conta também com pratos típicos internacionais. Diversos
restaurantes, inclusive o do Senac (Rua André de Barros 750 – Centro)
utilizam pinhão em suas receitas, além dos que servem Barreado, prato
típico do litoral que vai bem com qualquer temperatura.

De cachecol e casaco de lã, seja qual for a época do ano, Curitiba está sempre
pronta para receber seus visitantes, com elegância e muito charme.

* * * *

*A jornalista Karen Bortolini, gaúcha de Caxias do Sul com ascendência italiana, é apaixonada por Curitiba, onde vive desde criança.

 

Publicado por Silvia Bocchese de Lima

24/03/2020 às 14:43

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